A alteração do mundo nesta era 4.0 está atrelada na maioria das vezes ao trabalho, o qual, com a evolução do homem e da sociedade, altera seu conceito com o tempo.
Neste sentido, abraça-se ao conceito de trabalho trazido por Carla Teresa Martins Romar[1]a qual aponta que trabalho é toda atividade desenvolvida pelo homem para promover o seu sustento e para produzir riquezas, tendo passado por diversas formas, as quais variaram conforme as condições históricas que vigoraram em cada época.
Cabe aceitar que estas transformações são inevitáveis e, como a globalização, são fenômenos de longa data e atuais que não podem ser desconsiderados. Prova de tal fato são os exemplos utilizados pelo Autor Thomas L. Friedman em sua referida obra, sobre o atual cenário de trabalho no mundo:
Em meados de 2005, cerca de 245 mil indianos atendiam ligações de todas as partes do mundo ou telefonavam para oferecer cartões de crédito ou fazer cobrança de contas atrasadas. Estes eram empregados mal remunerados e de baixo prestígio nos EUA, mas na Índia eram associados a uma boa remuneração e um status elevado.[2]
Não diferente é a atuação da empresa Digital Divide Data, na qual conta o referido autor que terceirizava suas atividades de digitação de documentos com empregados do Camboja, os quais recebiam cerca e 75 dólares por mês para trabalharem seis horas por dia e seis dias por semana, sob a justificativa que o valor pago em dólar representa duas vezes o salário mínimo do Camboja.[3]
Assim, é perceptível a existência de problemas, mas também novas soluções para o mundo moderno, que envolvem novos formatos de produção e consequente do próprio conceito sobre o que é trabalho. Sobretudo, é importante que se destaque o surgimento destas novas modalidades e meios de produção em busca de melhores condições e redução da desigualdade social.
Cabe ressaltar que as transformações não são lineares, no entanto, percebe-se que a globalização, a Terceira Revolução Industrial e a Quarta Revolução Industrial, modificam o conceito, a legislação, o tempo, o espaço, e as relações de trabalho, instituídas por intermédio do desenvolvimento científico e tecnológico, bem como dos interesses econômico-políticos.
Neste contexto surgem a era dos robôs das impressoras 3D, da nanotecnologia, computação em nuvem, internet das coisas (Iot), intelegência artificial (I.A), entre outras novas aparições que trazem à tona a chamada revolução 4.0.
Conforme Ricardo Antunes[4], o trabalho demonstra hoje formas contemporâneas de vigência, nova configuração de classe trabalhadora, inovadas formas de interpenetração entre as atividades produtivas e as improdutivas, entre o sistema fabril e de serviços, entre as laborativas e de concepção e entre o conhecimento científico [...].
Importante que se destaque que estas transformações não são somente decorrentes do avanço tecnológico, mas também da evolução da própria sociedade e anseio das novas gerações.
Neste sentido, temos o convívio e confronto diário de deferentes gerações em nosso meio, seja como consumidores, seja como empregados e empregadores. Daquelas hoje mais presentes no mercado de trabalho, temos os nascidos até 1964, conhecidos como a geração baby boomers, que valorizam o status e a ascensão profissional dentro da empresa, à qual são leais e altamente comprometidos; aqueles nascidos entre 1965 e 1977, a geração X, os quais tem em sua personalidade desejo por trabalhar com mais liberdade, flexibilidade e defendem um ambiente mais informar e menos rigoroso; e a partir de 1978, temos a geração Y, que nasceram junto com as evoluções tecnológicas e da própria globalização, sendo altamente inovadores e inventivos, relacionais e com uma inteligência relacionada ao coletivo[5].
Não fosse estas diferenças existentes hoje no mercado de trabalho, não se pode esquecer dos chamados millennials, que inclusos no grande grupo da geração Y, são nascidos era do compartilhamento, em detrimento da especialização e da própria produção, não se interessam mais somente pelo adquirir, mas também pela experiência. Sobre os millennials e a geração Y:
Essa geração está disposta a assumir novos desafios e responsabilidade, mas sem abrir mão da vida pessoal e dos relacionamentos com família e amigos (NELSON, 2006). [...]
Essa geração foi produto dos excessos paternos e conviveu desde sempre com a tecnologia e seus avanços (NIEMIEC, 2000; KERSTEN, 2002). [...] valorizam sobremaneira a diversidade, o coletivismo e o trabalho em equipe (ZEMK et. al, 2000) e são muito flexíveis às mudanças (JENKINZ, 2007). Outras características incluem a habilidade de realizar várias tarefas simultaneamente, o caráter exigente (MARTINS, 2005), a extrema confiança (GLASS, 2007), o espírito empreendedor e o fato de serem menos propensos a trabalharem por processos (CRAMPTOM; HODGE, 2006).[6]
Portanto, a mudança das gerações e dos padrões produtivos – fruto um do outro – geram, mais do que nunca, a necessária a flexibilização do trabalho e das empresas.
Neste tema, temos por empresa flexível:
[...] quando se trata de empresa flexível, o que é estratégico para a acumulação de capital é a flexibilidade da força de trabalho, ou o que Salerno denominou flexibilidade social intraempresa ou extraempresa, ou seja, aquela flexibilidade relativa a legislação e regulamentação social e sindical, em que um aspecto muito discutido é o que diz respeito aos contratos de trabalho: a possibilidade de variar o emprego (volume), os salários, horários e local de realização de trabalho dentro e fora da empresa (por exemplo mudança na linha dentro de uma fábrica, ou mesmo mudanças entre fábricas). Ou ainda aquela relativa aos regulamentos internos, à representação sindical interna, ao sistema de remuneração e recompensas etc. [...][7]
É neste contexto, tentando compreender a evolução e as transformações do trabalho assalariado tradicional, que antes somente era prestado no centro/sede das atividades do empregador e, agora, em decorrência dos avanços do desenvolvimento tecnológico, ocorre na residência do empregado ou em qualquer outro local a sua escolha, que o legislador trouxe para o ordenamento jurídico brasileiro o teletrabalho – positivado, mas pouco incorporado na cultura laboral.
Palavras-chave: Direito do trabalho. Globalização. Terceira revolução industrial. Quarta revolução industrial. Empresa Flexível. Geração x, y, z, millenials.
[1]ROMAR. Carla Teresa Martins. Direito do trabalho esquematizado. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 26.
[2]FRIEDMAN, Thomas. O mundo é plano: Uma breve história do século XXI. p. 34.
[3]FRIEDMAN, Thomas. O mundo é plano: Uma breve história do século XXI. p. 339.
[4]ANTUNES, Ricardo.Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 4.ed. São Paulo: Boitempo, 2002.
[5]Ragheliz Comazzetto, Letícia; Perrone, Cláudia Maria; Lemos Vasconcellos, Sílvio José; Gonçalves, Julia. A Geração Y no Mercado de Trabalho: um Estudo Comparativo entre Gerações Psicologia Ciência e Profissão, vol. 36, núm. 1, enero-marzo, 2016, pp. 145-157 Conselho Federal de Psicologia Brasília, Brasil – disponível em https://www.redalyc.org/pdf/2820/282044681012.pdf- visto em 15/01/2019.
[6]O Sentido do Trabalho. Uma análise à luz das gerações X e Y.https://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Dialogo/article/view/1485/1044- visto em 05/02/2019. p. 28
[7] ALVES. Giovanni. Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. Boitempo, 2015. p. 19
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